15/03/2007

decidi desenhar um mapa do inferno. preciso me localizar quando chegar por lá. pesquisei informações no site do Institute for Geophysics, Astrophysics, Multimedia, Unidentified Flying Object and Meteorology, localizado em Los Angeles, e descobri que o clima no inferno é muito próximo de uma queimada na Jungle Amazônica. o calor é insuportável e o hipermercado mais próximo não vende filtro solar nem shampoo para cabelos ressecados nem creme hidratante — nem cigarros! a cerveja é sem álcool, nada de Coca-Cola e a dieta é 100% macrobiótica. todos os garçons são franceses e praticam happy slapping com os clientes, enquanto filmam tudo para depois publicar na internet. todo dia é segunda-feira e a rádio local executa Funk e Hip-Hop sem parar. a leitura é obrigatória. na biblioteca só tem livros do Nelson Motta e do Paulo Coelho. todos os celulares tocam aquele ringtone da Missão Impossível e as ligações são sempre de algum serviço de telemarketing. pitbulls e poodles e torcidas organizadas desfilam livremente. George Boole trabalha na única Central de Atendimento ao Turista e, não importa qual seja a sua dúvida, ele sempre responde 1 ou 0. como tudo por lá é muito emblemático, todos acabam achando significado até onde não tem: baobá-paralelo, pipoca-transcedental, underground-apocalyptic-clubber, fazem muito sucesso. e voilá! nos finais de tarde o Diabo sempre aparece numa cortina de fumaça exibindo um sorriso inabalável — vixi, confundi tudo. na verdade, a aparição é da Britney Spears. a segurança do inferno fica sob os cuidados da supercompetente polícia carioca que atira pra todos os lados. o conceito de bala perdida não existe. de hora em hora rola uma passeata: gays, negros, judeus, losers, índios, aposentados, camelôs, putas, as ovelhas de Cristo, todos organizados, na mais perfeita ordem, enquadrados dentro do esquema, lutando pelos seus direitos. leitores de jornais e revistas exigindo mais expressão e menos liberdade, e um grupo que não sabe muito bem o que é nem onde nem quando nem o que está acontecendo e quer continuar sem saber, também participam das manifestações. do caralho! é a expressão mais utilizada e você não consegue distinguir exatamente a que se refere: a) as celebridades e azelites sendo torturadas no caldeirão de enxofre fervente ou b) a pancadaria generalizada entre compositores de trilha sonora para filmes pornô e os tietes das prateleiras de literatura estrangeira, que se esbofeteiam discordando sobre quem foi mais significativo para a história da humanidade: Emmanuelle ou Sartre. e rola uma parada muito esquisita no inferno: Deus, em sua infinita bondade, libera programas no paraíso uma vez por semana, mas só através do sistema Pay-per-view.

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