23/07/2007

acordei, abri os olhos, estiquei os braços, liguei a televisão... Al Gore — depois de bombardear Bagdá e explodir fábricas de remédios no Sudão, quer salvar o mundo e se transformou no herói de um bando de artistas caipiras acostumados a beber leite no pires e fazer todo tipo de exigências absurdas nos camarins. em outro canal, Diogo Mainard não entende porque as mulheres muçulmanas são as mais felizes do planeta e chama isso de bovinice — nosso pasto é tão mais verde. concordo quando o alegre-colunista-bovino afirma que conhecimento e liberdade são as principais causas da insatisfação. mas conhecimento e liberdade servem pra que mesmo além alimentar conversa chata em mesa de bar? fiquei impressionado com a quantidade de aviões que despencam do céu do Brasil — lembrei de Magnólia e daquela chuva de sapos. surreal. como sempre, nosso presidente continua muito competente no exercício de sua total incompetência e achei comovente o pedido para que todos reconheçam o momento excepcional da economia brasileira. aí lembrei daquela música-porre: "apesar de você" e mudei de canal. ando com ojeriza do Rio de Janeiro: muito sol, muito calor, muita praia, muita festa... pensando bem: não sou carioca, não sou baiano, não sou jamaicano... então, o que é que eu tenho a ver com isso? durante um bom tempo acreditei que não participar de qualquer movimento era o suficiente, hoje sei que não ter opinião alguma sobre qualquer assunto é que é o grande barato. melhor ficar quieto e só observar. o que me faz lembrar que outro dia conheci uma mulher com pernas e braços pra todos os lados, proprietária de um daqueles sorrisos que fazem a gente repensar a vida. deixei ela falar, escutei com atenção, sem tentar tirar suas roupas. deu certo — Almodóvar não sabe de nada. no dia seguinte pensei: pra que ficar mais tempo se mais cedo ou mais tarde eu sei que vou querer ir embora? desliguei a televisão.

16/07/2007

durante o inverno Porto Alegre não se parece com nenhuma outra cidade que eu conheça ou desconheça ou ainda vá conhecer ou ignorar nos roteiros de viagens. Porto Alegre é Porto Alegre... zero grau, vento sul, um céu congelado, ruas desertas, conversas silenciosas, intimidade, lã e vinho.