11/03/2007

na pequena paisagem do mundo que me cerca, vejo uma papelaria, uma petshop, três bancos e dois restaurantes, além de um punhado de lojas com as fachadas castigadas pelo tempo. há muitos carros parados. também há muitos ônibus, com letreiros luminosos indicando como destino final o centro da cidade. uma multidão de pessoas se desloca, de esquina a esquina, sem olhar para o céu. um inseto investe contra a janela do carro.

há quanto tempo estou parado? esperando chegar atrasado. o humor oscilando entre o tédio e inúmeras crises de vaidade — por que todas essas pessoas querem atrapalhar o meu plano perfeito para um final de tarde ao seu lado? não pretendia salvar o mundo, só ganhar uns trocados. nunca se sabe o que pode acontecer. estou esperando horas e horas por isso. mas é melhor deixar a psicanálise para outra oportunidade. não devemos pronunciar o nome de Freud em vão. mas que numa dessas descubro uma idéia genial perdida na massa de bobagens que penso por minuto... ah, tudo pode acontecer. é certo que vou esquecer. minha falta de memória não é nada confiável e vai e vem entre rescaldos, janelas, quatro paredes de azulejo, secas, quadradas, como se fosse Luiz Paulo Vasconcellos comendo pelas beiradas ou a tristeza é uma rendição e é necessário encontrar substitutos, como em Elizabethtown, poemas sem aplausos, páginas viradas da revista Rolling Stone, Seattle com conexão-sei-lá-de-repente Porto Alegre, fronteiras invisíveis, cerâmica de Marianita, potes antropomorfos, pictures of you e todos os sinais fechados.

Paulo Francis estava certo: devemos tratar as pessoas como adultas — e isso não é uma ofensa! é quase um delírio, com esse desfile de ONGs subindo favelas, discursos inflamados que não incendeiam nada, promessas de inclusão e ressociabilização. a nova catequisação daquela quase-gente-brancos-pardos-ou-negros nem sempre quase-certos-ou-errados. a pobreza é auto-explicativa. mas a culpa esquizofrênica de uma velha juventude, que imaginou uma revolução que não aconteceu, está transformando o Brasil num país de boçais. right you are, if you think you are. sim, outra viagem. há quanto tempo estamos parados? o sinal abriu — já vi, não precisa buzinar!

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