04/11/2007

ontem, observei um plátano florescendo e lembrei de vocês. lembrei de nós. de nossas conversas em horizontes de inquietação. transmutação permanente de como experimentamos a vida abrindo janelas de luz que resistem à acomodação da sala. essa presença tem atravessado violentamente cada manhã e me surpreendo folheando lembranças como se fossem páginas de um livro — histórias de amor, desaviso e a coragem do impossível, desdém e os sapatos de Ramil, meninos embriagados de absinto, cigarros e cinzas. proximidade que abranda a ausência do mesmo céu como folhas secas de um plátano cobrem o chão de coisas que ficaram por dizer e já não importam mais.

estou pronto. levo no olhar o brilho de postais que já conhecem: ruas, esquinas, casas, o muro da Mauá, um rio que não é rio, bancas de livros, Menino Deus, Cidade Baixa, Moinhos de Ventos, cafés, cinemas, gírias e a melancolia das roseiras de Caio Fernando Abreu. levo todo o fingimento e ironia de um personagem inventado para provocar, mas também levo toda fragilidade e lealdade. levo-me inteiro.

a saudade não coube na mala. sei que a reencontrarei por aqui quando voltar, louca, arranhando a solidão com dedos de sufocar. roupas, perfumes, presentes, outros planos e sonhos e itinerários, apenas aguardam o embarque no avião. chego no início da madrugada, destino de todos aqueles que perdem o sono insatisfeitos com a cena vulgar. e o tudo sem pensar, o fora do comum e o desigual, sugiro guardar para mais tarde, para quando eu chegar.

4 comentários:

Ane disse...

dói em mim uma divisão de amores entre os plátanos e as amendoeiras, nunca me pergunto o que mais amo neles, talvez minha dor e amor esteja entre eles que habitam terras diferentes e se deixam amar entre distância de milhares de quilômetros, seres que esperam outonos para mudar de cor, seres que se soltam, que se despem e se vestem como para um espetáculo que nunca sai de cartaz.

creio que a saudade, o amor e a vontade de unir amendoeiras aos plátanos também nunca me sairá de cartaz... e quase com fé, rezo para que seja assim por todo sempre amém.

traga os olhos.
os que vc guarda dentro.
são as malas mais espaçosas, generosas e preciosas... quase sem possibilidade de estravio em esteiras de aeroportos.

beijo, guri.

Anônimo disse...

Ane Ro

putz, aí é foda! levo uma hora pra escrever essa porcaria de texto — com ajuda do Google e do Aurélio! e tu vem aqui e escreve um comentário muito melhor do que qualquer coisa que já publiquei nesse blog? vou voltar para os assuntos etílicos, esses eu domino mais!
beijos!
:P

Silvia Chueire disse...

ah, então descobre-se um humano sonhador, por trás do personagem agudo de ironia? Eu bem que presenti.

seja bem vindo, esta é uma cidade que acolhe. possivelmente acolherá a ambos com os mesmos braços calorosos, os mesmos sambas,a mesma cachaça,o mesmo olhar sedutor.

mas tenho a desconfiança, de quem vive nela há muitíssimos anos, que preferirá o mais humano,o mais amoroso.

que a cidade seja o seu continente.

beijos,
silvia

Anônimo disse...

Silvia,
somos feitos de sonhos... ou outro nome que queiram dar.
:)

beijos