27/04/2007

passei a ter um comportamento estranho depois de uma semana escutando Smiths — everyday is like sunday, everyday is silent and grey — enquanto trabalhava com um conceito gráfico-maluco de velocidade onde todos os textos e imagens ficavam distorcidos e com ângulos inclinados. primeiro rolou uma vontade incontrolável de ficar de cabeça pra baixo. em duas tentativas frustradas quase quebrei a coluna, torci o pulso e fui condecorado com uns cinco hematomas em diferentes parte do corpo. depois fumei um cigarro para ponderar melhor sobre aquela situação inesperada e sem nenhum senso de razão ou maturidade. de repente rolou um déjà-vu e senti um negócio gelado e úmido colado na minha cara. ah, não! o piso da cozinha de novo! por alguns minutos decidi ficar deitado ali mesmo observando o mundo sob a perspectiva das baratas. fiquei na dúvida: era eu que estava deitado no chão ou o universo inteiro que mudou de posição? levantei e resolvi adotar uma atitude que qualquer pessoa equilibrada e gozando de plena saúde mental tomaria em busca da solução definitiva para um problema. uma dose de vodka com tônica me pareceu uma atitude das mais sensatas. quando recomecei a caminhar batia com a cabeça na parede sempre que tentava passar por uma porta. o engraçado era a sensação de que todas as portas e janelas e paredes e quadros da casa estavam na posição errada, desconfortavelmente retas, sem nenhuma inclinação e totalmente verticais. será que estou com labirintite, numa viagem de ácido ou pirei de vez?

26/04/2007

economistas não merecem minha atenção pela própria natureza do curso que escolheram para suas vidas. alguém que decide conviver com números e estatísticas está muito distante da minha compreensão — ou muito mais distante ainda dos meus melhores momentos de embriaguez que é justamente quando me transformo num cara bastante simpático e tolerante. até os cachorros, que na verdade são espíritos sem luz que reencarnaram para cumprir uma espécie de castigo pelos atos praticados em vidas passadas, merecem maior consideração que os economistas e os chineses. lembrei dos chineses, sem mais nem menos, por dois motivos: 1) os economistas defendem o desenvolvimento da China como um exemplo que o resto do mundo deve seguir e 2) os cachorros fazem parte da culinária chinesa assim como a barbatana de tubarão, o pênis de tigre, gato, cobra, escorpião, gafanhoto, grilo e toda espécie bizarra de inseto que você possa imaginar — uma delícia, dizem aquelas pessoas mais liberais e com um paladar tão experimentalista quando duvidoso. hmn... da próxima vez que pedir China In Box vou dar uma geral pra ver o que andam colocando dentro daquela caixinha. então, é por esse tipo de coisa que os economistas, assim como os chineses e os cachorros, estão muito além de qualquer forma de insulto que conheço. os chineses não respeitam nada. o Tibete é um exemplo quase morto-vivo das barbáries que eles são capazes de promover para ostentar aqueles números de crescimento. o que os economistas não sabem é que grande parte dos cachorros que vagam pelo mundo são reencarnações de almas penadas chinesas — ou você pensava que outra explicação era possível para a quantidade absurda de cachorros e chineses que existem por aí? bem capaz! hmn... também acho que os poodles são publicitários e jornalistas reencarnados, mas essa já é outra história.

24/04/2007

uou-ô! só agora me dei conta de que uns tempos atrás uma representante de um site cultural — uma criatura muito simpática e educada, por sinal! esteve aqui no meu blog pedindo fotografia e respostas para um daqueles questionários que não levam para lugar nenhum e até meu cachorro poderia responder — se eu tivesse um cachorro, lógico. e se eu suportasse a idéia de ter um cachorro, mais lógico ainda.

então, hoje fui lá no tal site pra ver no que deu aquele contato e... nada. o Portal Literal é assim recheado de intelectuais de extrema relevância e conhecimento, com opiniões de extrema relevância e conhecimento, que alimentam a imaginação pouco criativa de leitores que se julgam de extrema relevância e vão seguindo meio que satisfeitos com o tipo de conhecimento que encontram por lá. enfim, é nisso que dá baixar a guarda para a ceeeeeena cultural brasileira: a coisa não anda, não precisa apresentar resultados e certamente está sendo patrocinada por algum tipo de incentivo ou lei sem nenhum controle de qualidade.

aí, você bebe todas no bar e se aproxima de uma dessas criaturas, meio que por curiosidade meio que por tesão, dependendo da situação, e pergunta "e aí, qualé?" e elas sempre respondem: "estou fazendo cinema!" ou "estou fazendo teatro!" ou "estou fazendo parte daquela turma que faz aquele tipo de coisa muito doida e criativa!"

nos Estados Unidos, até o mais selvagem republicano não vem com essa conversinha de "estou fazendo" e sabe muito bem que é parte de uma indústria de entretenimento que precisa ser profissional e participar efetivamente do desenvolvimento, em todos os aspectos, do seu país. por aqui, os intelectuais de extrema relevância e conhecimento desprezam a cultura norte-americana e sempre inventam um tipinho esquizofrênico e complicado de origem européia como referência de comportamento teoricamente correto, impraticável e ineficiente.

mas tudo bem, até porque se me perguntarem "e aí, qualé?" vou responder que não sei o que estou fazendo e muito menos sobre o que estou falando. mas se rolar algum tipo de coisa muito doida e criativa e sem roupas, tô dentro!

23/04/2007

tempo de silêncio

um texto melodramático e paranóico

o ser humano é uma criatura tosca que acredita em qualquer explicação tosca. então, uma vez por ano e com a proximidade da data de aniversário, o ser humano entra numas que o movimento de Saturno — ou sabe-se lá que outra pedra redonda e gigantesca com atmosfera hostil que fica girando completamente perdida pela galáxia — é capaz de influenciar em nosso comportamento e criar um desconforto conhecido como inferno astral. é claro que isso não tem o menor fundamento e não passa de mais uma lenda urbana. na verdade, o que acontece nesse período pré-aniversário é que nosso alter ego dá um tempo e parte para algum lugar desconhecido deixando nosso ego na maior roubada. viver sem o alter ego por perto é mais ou menos como um Harry Potter sem a Hermione, um Sítio do Pica Pau Amarelo sem a Emília, ou a existência da música Everything my Heart Desire somente na voz melancólica de Danielle Brisebois, sem aquela batida dance-abobalhada de Mandy Moore, em outra música igualmente chamada Everything my Heart Desire, mas que não tem nehuma relação com a primeira — hmn... e chega de exemplos absurdos porque já estou ficando meio confuso.

o alter ego é a parte mais divertida e significativa da nossa existência. viver sem parentes, amigos e namoradas é perfeitamente possível. viver sem o alter ego é angustiante e solitário e frio e outras coisas sombrias que não lembro agora! o alter ego é o que dá sentido para todas as coisas, sempre com aqueles questionamentos fundamentais ou observações pertinentes do tipo "por que três pedras de gelo no uísque?" ou "Milles Davis é música pra tiozão! vamos comprar o novo CD do Strokes!"

a ciência ainda não é capaz de explicar porque nosso alter ego tem esse comportamento pouco solidário justamente nos momentos mais críticos e nos abandona a própria sorte quando mais precisamos dele. talvez, mas não tenho como confirmar isso porque nenhuma universidade inglesa pesquisou sobre o assunto, pela falta de paciência com nossas queixas que vão se agravando com o passar do tempo e a cada aniversário.

recentemente, meu alter ego deu no pé! mas como ele é um cara legal, deixou uma lista com coisas que não devo fazer em Denver quando estiver morto e, principalmente, enquanto estiver vivo. não entendi muito bem essa parada de Denver — meu alter ego é um cara meio enigmático, problemático e temperamental. resumindo: é completamente maluco! no final do bilhete-lista uma frase chamou minha atenção: "diminua a quantidade de açúcar e permaneça em silêncio." na dúvida, vou seguir o conselho até que ele volte.

20/04/2007

Banksy com Lobão

imagem: Banksy

diante do medo um sorriso aeróbico
nas bochechas a câimbra de uma alegria incompleta
nada como um sorriso burro e paranóico
para não perceber a velocidade terrível da queda

17/04/2007

café com Royksopp (What Else Is There)



i don't know what more to ask for
i was given just one wish

15/04/2007

eu, Fernanda Young e a parede

— psiu... não dá pra mudar de canal?
— estou meditando.
— meditando enquanto assiste Fernanda Young? fala sério.
— é um método que inventei. se conseguir ficar 30 segundos sem me irritar com essa patricinha-gothic-lolita-caipira vou subir um degrau no processo evolutivo.
— cruz credo! patricinha-gothic-lolita-caipira?
— ahn... tipo: representante da classe-média atormentada que desconhece o conceito de Freud que afirma que o sexo é dominante na etiologia de todas as neuroses. a ignorância desse aspecto básico na formação de qualquer indivíduo permite que o superego se oponha ao ego como uma espécie de consciência, criando a fantasia de que atitudes diversas possam demarcar alguma particularidade ou posicionamento inovador. se você observar, qualquer expressão humana está intimamente conectada ao fetiche sexual. os filmes de Quentin Tarantino e Almodóvar, as HQs de Frank Miller, as bençãos de Bento XVI no balcão da Basílica de São Pedro, Nietzsche e a Bossa Nova, não passam de iconografias eróticas em diferentes níveis. comportamentos como o de Fernanda Young, exibindo coturno, meiona, sainha, blusinha, cabelos curtos artificialmente pretos pintados com hena, pulseira, brinco, piercing, tatuagem, maquiagem by Robert Smith, do The Cure, reclamam para si o anúncio da transgressão, aridez e rejeição das convenções, percorrendo uma highway alternativa entorpecida de cocaína e repleta de nomes estranhos que fazem parte de uma encenação contracultural ou algo do gênero. na verdade, tudo não passa de um ritual de aproximação com seus pares que tem por finalidade o estímulo e a justificativa para o acasalamento. do princípio ao fim, a natureza humana gira simplesmente em torno da própria imagem refletida no espelho e deseja ardentemente por algo parecido com "esse corpinho merece ser comido!"
— hmns... você sabe mesmo como simplificar as coisas. isso até parece um déjà vu de O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, adaptado para um vocabulário descolado de Segundo Caderno.
a língua é minha pátria e eu não tenho pátria. prosa caótica. ótica futura. samba-rap, chic-left com banana. tá craude brô.
— ih, surtou! é por isso que sou uma parede e, enquanto parede, me sinto realizada. você, ao contrário, só está querendo se exibir!
— foi você que começou.
— ué, natural. as paredes se comunicam com as pessoas o tempo todo. o que não é natural é a incursão doentia em diálogos estruturados com ponderações recíprocas. você devia saber dessas coisas. uma parede laranja transmite energia criativa ao ambiente; para instrospecção e tranquilidade é recomendado a cor azul; e por aí vai e por aí termina, sem maior grau de interlocução. contatos imediatos de terceiro grau é coisa que só existe entre o Spielberg e os extraterrestres! quadros e gravuras também podem servir para essa troca silenciosa. por exemplo: paisagens campestres e cenários naturalistas não apresentam nenhum tipo de intervenção entre o homem e o meio em que vive — nesse caso, fica claro que as paredes são a representação da incapacidade de abstração do seu dono. por outro lado, posters de arte, rock ou cinema demonstram a necessidade de transmutação através de códigos e signos que expressem as idiossincrasias e percepções mais íntimas. bom, uma parede com um pôster de Stanley Kubrick, Mondrian ou R.E.M., não pode receber o mesmo elogio de uma parede que exibe o Spock da Jornada nas Estrelas, Che Guevara ou a Sandy e Junior. enfim, fotografias também são legais. logicamente, não estou me referindo aquelas fotografias onde a caçula da família aparece sorridente fantasiada de Chapeuzinho Vermelho no carnaval de 1987. acredito que você entendeu o conceito. vai por mim, sei dessas coisas.
— por isso escolhi a cor gelo para pintar as paredes aqui de casa. um tom neutro, sem sugestões ou qualquer influência... tá ligada?
— essa sua atitude é preocupante. a cada dia que passa acentua-se o egocentrismo e o distanciamento de tudo que o cerca... tá ligado?
— se eu mudar de canal, promete permanecer em silêncio?
— jura? combinado!
— (suspiro!)
— ei! pára tudo! deixa nesse canal... adoro programas sobre decoração de ambientes!

— psiu... ei! está dormindo?
— hmns...
— você viu aquilo?
— hmmmmmmmmmns...
— acho que é uma lagartixa. você não faz idéia do inferno que uma lagartixa representa quando percorre a superfície lisa de uma parede. sinto cócegas e calafrios do rodapé até o forro. uma tortura chinesa, sem dúvida. não dá pra acender a luz?

12/04/2007

a qualidade do sexo casual anda desestimulante e antes de procurar o celular confiro a programação da TV pra ver se não vou perder nada mais interessante. segunda-feira, nem pensar, porque posso finalmente descobrir o que aquele monte de desajustados estão fazendo perdidos numa ilha e se o tal Projeto Dharma existe mesmo. na sexta, Heroes, mais desajustados perdidos. sábado é dia de não fumar e não beber, comer Cheddar McMelt e assistir desenho animado no cinema. domingo tenho preguiça. nas terças é aquela coisa de beber e beber e beber até amanhecer o dia e alguém lembrar que está atrasado para o trabalho. quartas e quintas: estou livre. mas será que vai valer a pena? não desliga. falei sem pensar! juro. porra! que mulher mais temperamental. ahn... e agora?

tenho quase certeza que no futuro vão existir apenas três modalidades de sexo: 1) aquela coisa esquisita que os casados praticam e que lembra muito vagamente sexo; 2) aquela outra coisa esquisita que os os casados também praticam, quando estão sozinhos em salas de bate-papo na internet, e que também lembra muito vagamente alguma outra coisa ainda mais esquisita e que ninguém sabe muito bem o que é; 3) e o sexo profissional. como recasar ou comprar uma webcam são duas coisas esquisitas que não passam pela minha cabeça, e olha que muitas outras coisas esquisitas passam pela minha cabeça, decidi espiar os classificados de acompanhantes no jornal.

pra começar, anúncios de agências. tudo muito profissional e organizado, sem nenhum sabor de aventura. na sequência, uma tal de Karen pergunta se alguém deseja ser o seu ursinho. não, muito infantil. a Jacke, aposta em algo do tipo "trabalho construído sob o alicerce da confiança, olhar o cliente nos olhos e entender o que ele precisa garantindo a máxima satisfação", terminando com o endereço do site amo-voce-ponto-qualquer-coisa. como assim "amo você"? e que papo é esse de entender o que eu preciso? putaquepariu, só falta querer discutir a relação. a Carol, liberal total, transa até inversão de papéis. ahn, acho que ainda prefiro algo mais tradicional. pra finalizar, uma série de anúncios de ninfetas preguiçosas em busca de velhos pervertidos.

desisto dos classificados do jornal e abro a Rolling Stone de abril. a revista Rolling Stone tem uma característica ímpar: é a única revista do universo que em todas as edições consegue fazer matérias enormes sobre os Rolling Stones, a melhor banda de rock de todos os tempos — contrariando a tese que alguns defendem de que a melhor banda de rock de todos os tempos é aquela outra banda inglesa, precursora dos Menudos e do Backstreet Boys. mas isso não importa, o que importa é que a prática sexual dos Stones devia ser objeto de estudo. Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones deixam qualquer pessoa se sentindo a Madre Teresa de Calcutá e levam a reflexão do tipo "será que ainda sou virgem?".

no final de tudo, aprendi uma lição que já esqueci — o que é absolutamente normal e só comprova como minha saúde mental está como sempre foi. acho que era uma lição associada com uma letra qualquer, só não sei qual, se ao Ponto "G", o "X" da Questão ou a Hora "H". enfim, sexo é uma coisa que não sai da cabeça de ninguém, mesmo que meio manjado, e continua sendo uma boa opção de diversão em suas devidas proporções.

11/04/2007

já estamos em abril e Bush continua cumprindo seu papel de carrasco imperialista da vez — no programa de David Letterman existe um quadro chamado "Por que o mundo nos odeia?". parece que eles se adaptaram bem a idéia e dão boas gargalhadas por lá sempre que uma bandeira norte-americana é queimada em manifestações catatônicas realizadas no hemisfério sul, feito aquelas bruxas da Idade Média. pensando bem, o Terceiro Mundo vive mesmo na Idade Média. enfim, já estamos em abril e outro dia sonhei que Collor, ACM, Sarney e Lula andavam lá pelo Planalto Central. abril, e uma pesquisa do Sandwich Grill Institute of the University of London revela que o Brasil tem um dos piores índices de intelectualidade do mundo, ficando na frente apenas do Principado de Sealand, considerado o menor país do universo, com uma população média de dois habitantes e que se orgulha do fato de não existirem intelectuais por lá.

10/04/2007

depois dos remakes do cinema, o rock também decidiu abrir as portas do museu de cera da Madame Tussaud's. meio caducos, meio sonolentos, The Police, Genesis, Smashing Pumpkins, Roger Waters e até os Mutantes off Rita Lee estão de volta. parece que a criatividade chegou mesmo ao fim e agora estamos descobrindo o que realmente existe depois do "e viveram felizes para sempre": muito reumatismo e comida requentada.

07/04/2007

entrevista do mês: Jesus Cristo

seu pai não anda meio omisso?
sinto que as respostas são maiores que a pergunta. o universo é complicado de administrar. um dia na Terra é como mil anos para Deus e mesmo assim não encontramos tempo para fazer todas as coisas. estrelas, planetas, galáxias e outras imundícies celestes girando num sistema espaço-temporal que obedecem leis de uma física completamente pirada num processo caótico de expansão constante e infinito levando à desagregação de toda a matéria e à sua morte. também existe outra hipótese, que sustenta a possibilidade da ocorrência de um fenômeno inverso ao Big Bang, o Big Crunch, onde essa expansão termina e dá lugar para um processo de retração, levando à conclusão de que este universo pode ser apenas uma instância distinta de um conjunto mais vasto, a que outros Big Bangs e Big Crunches deram origem. Nietzsche escreveu sobre a possibilidade de que o Universo e todos os acontecimentos que contém se repetem ou repetirão eternamente da mesma forma. é uma loucura de equações improváveis e, sinceramente, perdemos o controle da situação! e com toda essa confusão, ainda precisamos ficar o tempo todo de olho no que Michael Jackson está aprontando. acredite, é bem pior do que parece.

e estamos mesmo sozinhos ou existe vida em outro lugar?
vocês tem o Orkut, o MySpace e o MSN. como podem estar sozinhos? não entendo essa paranóia de vida em outro lugar se não sabem nem o que está acontecendo ali na esquina.

as diversas teorias a seu respeito, não o incomodam?
as pessoas entenderam tudo errado. naquele tempo existia uma imaginação espantosa, todos se assustavam facilmente com qualquer coisa e tudo era um milagre. foi esse o motivo da comparação dos homens com as ovelhas. as ovelhas são estúpidas e se assustam facilmente. Lázaro, um amigo meu, acreditava que se fingindo de morto não precisaria se envolver com os problemas dos outros e, principalmente, com os problemas dele. minha mãe também não ajudou muito. quando apareceu grávida achou melhor não revelar suas teorias sobre alienígenas e outras maluquices do tipo, pouco conhecidas na época pois a Califórnia ainda não existia. inventou um tal de Boto Cor de Rosa, mas ninguém entendeu nada. meu padrasto, que não era muito inteligente, também ficou confuso, mas aceitou bem a idéia de ser o corno mais famoso da história. e tem aquela parada com os peixes. qualquer economista sabe como alimentar uma multidão com meia dúzia de peixes e algumas fatias de pão. no Brasil, tem muito peixe e pão, mas o milagre é pelo avesso e nenhum economista é pregado numa cruz. se fosse nos dias de hoje, Lázaro ligava a TV, meu padrasto pedia o divórcio, e ninguém ia dar a mínima.

qual a versão da sua vida que mais o agradou?
todas não passam de teorias do neo-estruturalismo semiótico. descobri isso no Google e achei interessante, você já tinha ouvido falar? neo-estruturalismo semiótico explica tudo e qualquer coisa para qual você não tenha respostas. ouvi comentários sobre A paixão de Cristo (Mel Gibson), A Última Tentação de Cristo (Martin Scorsese), Jesus Cristo Superstar (Norman Jewison) e o livro O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago. particularmente, prefiro A vida de Brian (Monty Python), acho que combina melhor com pipoca.

existe mesmo o céu e o inferno?
depende do ponto de vista. você assiste ao Big Brother Brasil? todas as pessoas são bonitas, perfeitas e saudáveis. ninguém precisa trabalhar e a comida é de graça. não existe televisão ou jornal ou revistas semanais. a única regra é a convivência tolerante sem agressões físicas. o clima é de férias o tempo inteiro. a decoração é de muito bom gosto. tem piscina, varanda, banheira de hidromassagem, sauna, uma bela cozinha e quartos com edredon e ar-condicionado. você ainda participa de brincadeiras e pode receber prêmios ou ficar num quarto exclusivo com mais mordomias incluídas e direito a um acompanhante. agora, me responda sinceramente: você conseguiria viver uma eternidade inteira por lá? a sua resposta define o que é céu e inferno.

para finalizar. você tem idéia de quando vai voltar?
estou pensando em abrir um blog.

03/04/2007

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

One Art, Elizabeth Bishop

01/04/2007

— tudo que tem meu nome é meu. tudo que tem seu nome é seu.
— nada tem meu nome.
— então, nada é seu.


Nina (Heitor Dhalia, 2004)