16/01/2008

divirta-se!

me mate às três, quatro ou seis. só não tente me sufocar nem sangrar aos poucos. escolha outro método. sei que vou morrer cedo, não tenho medo. pouco me importa a dor ou o seu esforço. se ainda está decidido a me matar, faça com vontade! com precisão, urgência e sem falhas. faça por necessidade, não para me provocar. e não adianta me perseguir como um fantasma, abrir janelas e escrever bilhetes desesperados ou suplicando piedade. se for pular fora, me acorde antes das dez ou coloque o relógio para despertar. ando ocupado, com os prazos e músculos esgotados, virando noites com o olhar fixo na tela do computador procurando cores e vendendo sonhos que não me interessam. meus sonhos? você esqueceu de perguntar.

está pensando que eu sou fácil? 1) eu não presto, 2) não tenho pressa, 3) aprendi a escutar, 4) desenhei um mapa com o seu nome pelo chão e paredes e teto da casa onde marquei seus pontos fortes em azul, seus pontos fracos em verde e seus sonhos em vermelho, 5) desprezo todos os seres humanos, aproveite se deixei você se aproximar, mas é bom saber que 6) eu não tenho memória — nunca! um dia tudo acaba e não sei nada sobre ontem nem amanhã. quero agora, quero já! você ainda quer me matar? vá em frente!

e não fique com essa cara de otário, com as mãos procurando algo em que possa se sustentar. acenda um cigarro, vou fazer o mesmo. aproveite bem! cigarro provoca câncer, espero que você saiba. na vida tudo é assim. causa e consequência. ação e reação. uma troca. você me entende? seja interessante e receberá todo o meu tempo, o meu mundo. só não me venha com o mesmo nhém-nhém-nhém de sempre. sabe como classifico isso? um insulto! confesse, você estava pensando mesmo que eu era fácil? achou que era como ligar a televisão ou alimentar os peixes. achou que eu era só mais um cara. cai na real: nada me interessa. me conta? o que te interessa? aí podemos continuar. ou então toma um porre, um sacode!, liga no meio da madrugada para falar sobre tudo, sobre nada, sobre um filme ou um livro, uma receita de maionese, uma viagem para o interior, para Salvador, para Bagdá, banho de cachoeira ou caminhadas na beira-mar, uma tatuagem, duas tatuagens, três tatuagens, vida própria, amigos, invente mentiras se não viveu verdades, invente listas de coisas banais, invente frase pontuais — frases pontuais são o meu ponto fraco, pode marcar em verde ou vermelho! escreva um texto completamente louco com o primeiro pensamento sem sentido que aparecer... vou te ajudar. não sou escritor nem porra nenhuma, escrevo na mesma velocidade que penso, mas vou te ajudar! escuta:

não sei porque me acostumei a ficar tão longe de você. era preciso que fosse um momento absolutamente perfeito. uma tarde de primavera, sol e luz, todas as contas pagas, as revistas cuidadosamente arranjadas sobre a mesa de centro, os móveis e quadros combinando com a cor da blusa, Miles Davis tocando... era preciso que fosse um momento absolutamente perfeito. tanto medo, sabe assim? loucas fantasias e tanto medo, você me entende? e também existem esses dias em que a vida não vem. insisto e procuro pela casa — debaixo dos lençóis, dentro da geladeira e dos armários, sobre a mesa, nas páginas de livros e cenas de filmes, nas horas que se desmancham no ar e lembranças que perderam seu lugar. e nada faz sentido. o vento bate a porta do que se foi, atravessa o corredor, invade o quarto sem pedir licença e me diz — adeus! é meu reflexo que se vai e sou eu em pedaços pelo chão. é quando a vida chega e pergunta por onde andei.

você ainda está por aí? viu como é fácil? não temos compromisso com a excentricidade nem com a genialidade ou a irrepreensível forma do ser — foda-se Ptolomeu, Mozart, Mondrian, Lacan, Gandhi, Saramago, Woody Allen, seu advogado, professor, ex-amor ou qualquer outro além de nós! somos pessoas comuns. eu e você. tentando respirar e viver um amor indevassável, mesmo que isso não exista e que não possa durar. não dou a mínima, pode rir! você tem alguma coisa melhor pra fazer agora ou depois? vamos rir juntos? só não faça essa cara de vítima. não tá bom? pede a conta! detesto vítimas! nem meu filho de 11 anos se faz de vítima porque sabe que não vai chegar a nenhum lugar! e sabe onde ele chegou? tenho poucos amigos, contei aqui... são nove! ele é um deles. nenhuma vantagem ser meu amigo, é verdade. então, mate-me logo! sinta-se livre! tentei evitar desde o início qualquer aproximação com a expressão "liberdade". achei mesmo que você não ia entender.

faltou dizer algo? meu nome, telefone e endereço você já sabe. mas agora é tarde. lembra? você conseguiu, de um jeito muito estranho, me matar.

15 comentários:

Ane disse...

u l a - l á . . .

estavam faltando essas linhas na tua vida! eu espero ser uma das nove e se eu não for, aguarde que eu te mato.

aliás, se eu não fosse tua amiga e não fosse seriamente comprometida, eu me apaixonairia no ato por vc, Alec, seu cínico!

c a r a c a !

Rogerio B. disse...

Ane Ro,
como comentamos por mail, faltam 6... ahahahahahah! essa contagem regressiva vai ser a parte mais divertida de todas!
beijos!

Anônimo disse...

acabo de entender o porquê do convite para aquele portal. não sou pessoa pra dizer se alguem escreve bem ou nao no que diz respeito a qualidade literaria, mas tenho um nariz oportunista que costuma acertar no que diz respeito a gostos populares. nao tenho nada de paciencia, sou quase uma mulherzinha futil, sou das massas. e isso significa que ou eu sou agarrada pelo texto até o terceiro paragrafo ou esquece. ce sabe bem que eu sempre acho que há coisa melhor pra eu fazer na rua.
e tu é bom, criatura. vc prende. prestencao no que ane anda dizendo pra vc desde que nos conhecemos. e digo isso pq pode ser que vc caia nas gracas dos criticos, das mulheres (o mercado editorial é alimentado por mulheres. elas sao 70% do publico que compra livros nesse pais) e de gente com o meu nariz. se vc nao entendeu, o que tô dizendo é que essa me parece a combinacao perfeita pra vc virar dinheiro com o que escreve, meu amigo. e tô falando sério. se vc nao pensar sobre isso vou pensar por vc. prestencao porque este nao é um comentario de alguem que quer te devorar todinho comecando com uma abocanhada no blog, nao é elogio de amiga. voce é realmente bom. prestencao e pensa nisso.

Anônimo disse...

Ále,
tá bom, pensa por mim então! risos... mais uma surtada, céus! gente, eu não escrevo, eu penso em voz alta! escritor sofre, tá ligada? atravessa processos, amadurece o texto, nhein e nhein! eu não levo nem cinco minutos, escuto Stones no volume máximo, bebo cerveja, atendo o telefone, teclo no MSN, respondo e-mail e dou risadas! eu sou um hiperativo alfabetizado, nada mais! aloooou? mas tudo bem, aceito os elogios porque não sou bobo!
beijos!

ps. agora faltam 5! mas parei a contagem, deu medo! ahahahahaha! vai que tenho de usar a minha "delicada" sinceridade em público e a coisa fica contrangedora?


ps 2. se alguém me chamar de poeta eu parto pra briga!


ps 3. hmmmm... se a Mônica aparecer por aqui e me ameaçar com aquela frase, deleto o texto, deleto o blog!

:B

Sergio Fonseca disse...

Ô cara, larga a mão de ser besta. Só agora eu li seu texto. Ontem ouvi, entre um gole e outro de malte, com ótima interpretação da Ane. E sabe com é, interpretação e bebida podem levar à conclusões erradas. Mas está muito, muito bom! E se o processo é o que você relata, escreveu em modo multitarefa e publicou, imagino se você parar, reler, deixar amadurecer. Não. Melhor não. Escreva e mande para a gata Félix. Essa é outra que tem faro para a coisa. Com essa carta, se eu fosse o sr. Sommo, estava ferrado.

Anônimo disse...

Sergio,
vocês tão de sacanagem comigo! ó, já estou todo bobo por aqui com tantos elogios, juro! podem parar! e estou pensando em traduzir esse texto para o inglês, francês, espanhol, esperanto e linguagem de sinais! vamos todos ficar ricos! acompanha o raciocínio: a Ále que já tá contratada como agente, a Ane Ro que já tá contratada como consultora literária e você que já tá contratado para produzir as fotos das capas de cada edição! como é muito dinheiro, vamos dividir 20% pra cada um! os 20% restantes gastamos em viagens pelo mundo afora! e tem mais os convites para palestras, não esqueçam! desmarquem todos os compromissos para 2008! já imaginaram eu e Cecília na mesma sala diante de leitores sedentos por vida e fantasia? no mínimo vamos romper com o equilíbrio natural das coisas, provocaremos um desalinhamento permanente da órbita dos astros, uma nova ordem de pensamento será estabelecida, o caos, a loucura e, é claro, um final apoteótico sobre a mesa redonda com sexo selvagem até o final dos tempos — para o espanto mudo dos demais escritores debutantes que também foram convidados! e o povo vai ficar de pé e aplaudir enlouquecidamente! céus, que cena! acho que acabo de descrever o inferno!
abraços meu amigo!

Anônimo disse...

é, né? passo por aqui calada...pqe fui proibida de falar.

Ane disse...

Por que a Mo tá proibida? Porque vc é gaúcho?

Ou há outra razão?
Voce pode me dizer? Vc sabe por que?

(kkkk!)

Anônimo disse...

Mônica
estou pensando numa resposta para mais essa provocação, me aguarde!
beijos!

Ane Ro
ela não tá proibida nada... até parece! e desde quando eu mando alguma coisa? ninguém me escuta! hmpf!
beijos

Anônimo disse...

O texto tá uma merda.
(...)






Ok, tá nada. Ou tá, nem sei, nem li. ainda. Li o resto, E tava bom, muito bom, Como sempre esteve. E você sempre soube, ora.
Vou ler amanhã, com menos sono, depois me junto ao coro. Ou não. Ou sim.
Por ora, por hora, digo que adorei descobrir esse canto novo aqui. Não sei com quanto de atraso, mas isso não importa. Sou só mais um estranho que repete small talking vazio de sentido e repleto de dentes na véspera de Natal - sou RP, enfim.
Sou só mais um admirador da tua habilidade com as palavras. Um puxa-saco, you know.
Mas só puxo quando acho que merece.
Há braços, Rogerio!

Anônimo disse...

Lemuel
putamerdamesmo! começou teu comentário tão bem, depois estragou tudo! ei, bom esse reencontro! tá linkado!
abraços!

Unknown disse...

deixei vc linkado lá em casa pra poder te visitar sempre, gosto muito de te ler...fazia tempo que não vinha e hoje cheguei e dei com este texto impossível de parar de ler...incrívelmente delicioso!
adoro seu jeito de escrever!
beijos
juju

Anônimo disse...

jussara
não faz isso! será que só o Lemuel teve um pouco de juízo e logo em seguida o perdeu no meio de algum parágrafo? céus!
beijos!

Anônimo disse...

Prontim. Agora li.
E vou dizer, sem pretensão nenhuma de ser crítico de nada, mas porque parece que é o que senhor bem tá querendo; não tá uma merda, não. Mas tá longe de ser tão bom quanto outras coisas de tempos passados. Tu escreve bem, sabe disso, e é escritor, sim, nem vem. Mas nesse post me lembrou muito uma certa "nova geração literária da internet", alguns daqueles blogueiros da mais ou menos velha safra, uns jovens seguidores de Fante e Bukowski. Que têm lá um mérito ou outro, mas são chatos, porque datados e limitados.
Foi bonito, foi gostoso, mas passou.
Como eu disse, tu já fez melhor. E pode muito, muito mais.
Quero te linkar de volta também - pode?
Abraço, doutor!

Anônimo disse...

lemu
* lemu!? tu tá diminuindo rapá? :p

não só pode como deve me linkar! você é de casa faz tempo!

ei! não gosto de Bukowski... mas nunca li! agora vou ter que ler pra saber do que você tá me xingando! risos

abraços!