08/02/2007

em busca do litoral perdido

a vida é uma coisa chata. basicamente, você acorda, abre os olhos, se arrasta bocejando até a geladeira em busca de comida, coça os pêlos, procura um parceiro para acasalar, volta a bocejar, coça os pêlos mais uma vez, depois pensa: o que vou fazer no resto do dia? um amigo relatou que viu ou ouviu em algum lugar alguém dizendo (uma fonte absolutamente confiável e com referências seguras, como podem perceber!) que a natureza do ser humano é nascer, crescer, procriar e morrer. nós, os chimpanzés, estamos absolutamente de acordo com essa tal natureza, seja ela quem for, e quando um chimpanzé decide questionar a ordem natural das coisas citamos a frase daquele célebre chimpanzé grego que dizia mais menos assim: uhahuhahuh-uah-uah! -- na verdade, ninguém jamais conseguiu ou tentou decifrar o significado da frase. os chimpanzés não entendem nada de grego antigo e, na dúvida, preferem não evoluir em papo esquisito voltando rapidamente para nossa diversão predileta: ficar imóveis o máximo de tempo possível cada um no seu galho.

mas os humanos são criaturas agitadas e acham a maior curtição ficar pulando de árvore em árvore prosopopeando sobre qualquer bobagem. resultado: inventaram algo que chamaram de "verão". o verão era uma coisa legal porque não só encontraram o que fazer no resto do dia como passavam três meses seguidos conversando sobre nada e inventando outras coisas legais. foi assim que surgiu o "pô", o "bah" e o "capaz", a Coca-Cola com limão e gelo, o banho de mar, o protetor solar, a Bossa Nova e os aplausos para o pôr-do-sol. o problema é que o verão e as boas idéias chegaram ao fim e eles ficaram mais uma vez de bobeira coçando os pêlos, bocejando e abrindo e fechando a porta da geladeira. quando as folhas começaram a cair secas e amareladas pelo chão, decidiram descer das árvores e mudar para outro lugar em busca de mais verão -- a tal natureza que assistia aquele movimento todo achou que a faceirice dos branquelos depilados não ia dar em nada e voltou para sua diversão predileta: extinguir as espécies que demonstravam total desinteresse em possuir dentes e garras afiadas.

a caminho de outro verão, os humanos continuavam inquietos e seguiam inventando coisas para passar o tempo. aí fudeu! alguém teve a idéia do que poderia se chamar "trabalho". o trabalho era uma coisa mais do que legal porque manteria todos ocupados o dia inteiro e ainda estava acompanhado de uma outra coisa legal que chamaram de "salário". os humanos (que na opinião dos chimpanzés, invariavelmente, tem um comportamento estúpido!) rapidamente foram absorvidos pelo trabalho e não sobrou tempo para fazer mais nada. além disso, o trabalho deu início a uma série de outras invenções pouco inteligentes: contas no final de mês, agenda de compromissos, reuniões cansativas e, mais recentemente, os moto-boys. o trabalho transtornou a essência dos humanos de tal forma que eles tiveram que inventar algo mais louco ainda para justificar aquela correria toda, uma tal de "felicidade". durante a maior parte de suas vidas eles não lembram ou não sabem ou não tem tempo para aproveitar essa tal felicidade. apenas sentem que estão bem próximos dela quando chega outro verão, migram todos para as praias de Santa Catarina e ficam pensando na beira do mar: ainda bem que eu não tenho nada para fazer no resto do dia. é quando eles começam a resgatar algo que estava perdido e uma luz vai surgindo e uma coceira e uma vontade esquisita de acasalar e subir em árvores e... toca o celular e estraga tudo!

5 comentários:

Ane disse...

É...
Acho que o modo "silencioso" e a tecla "desligar" é invenção dos peludinhos, né?

Silvia Chueire disse...

: )

Clah disse...

Rogerio, amei seu blog, amei seus textos. pensava em fazer um blog tbm pois compartilho desses pensamentos sem noção, vai que talvez alguem tbm gosta né/? rsrsrs
mas agora estou decidida; vou fazer um blog! só não sei qdo!! rs

Anônimo disse...

Ane,
fiquei uns 15 minutos tentando entender que raios era esse modo "silencioso" e onde ficava essa tal tecla "desligar"... aí, juro! concentrado nessa missão de extrema relevância, toca o celular... e o que acontece? finalmente, caiu a ficha! tsc... ah, e passei a hora do almoço escrevendo um texto enorme, daqueles que você detesta ler na web, e vou publicar só pra ouvir suas reclamações!

Silvia,
:P

cla_i_love_me,
se o que você procura é compartilhar seus pensamentos sem noção, deve abrir um blog imediatamente. o mundo precisa com urgência de pessoas assim, está ficando cada vez mais chato viver no meio dessa gente que se esforça o tempo todo pra se adaptar. não esqueça de informar o endereço!

Ane disse...

pqp...
Rogério, eu já não te expliquei que texto de blog não pode ser assim tão longo??? hehehehe!

demorei.

passei por aqui várias vezes só olhando para os números em cima das portas.

muita informação.
mas não vou voltar para ler tudo de novo, vou comentar o que lembro rapidamente.

é Zeca Baleiro quem mora no 203?

no 302 o barato da personagem chama-se rodox?

acho que eu moro no 303, né?

aquele negócio usado no 302 podia ajudar no esquema do 401, eu acho.

no 403 mora um bichano de nome Rogerio, ninguém me engana.

agora pára de fazer torres, tá? que tal uma cabana de madeira no meio do mato?

;)
beijo, guri.