25/11/2007

ela não quer mais se apaixonar. quando a conheci, pensei: essa é das complicadas — oba! agora pronuncia cada palavra como se estivesse fazendo uma declaração de amor ao avesso. minha cabeça começa a girar. teria ela encontrado uma paixão qualquer que almas condenadas como a minha desconhecem completamente o sentido? budismo, gatos pardos abandonados nas ruas, missão humanitária em Serra Leoa... sei lá! procuro alguma contradição no seu olhar. nesse instante a música começa a tocar: but any fool knows, that there's no way to win, here we go again... maldito Ray Charles! ai-ai-ai, penso. nunca estive interessado, pra que continuar? ela não espera que eu acredite. não depois de todos esses anos. sou o cara errado para esse tipo de conversa. sou cínico, ela sabe. pronunciar frases soltas como bilhetes de suicidas não vão nos levar para nenhum lugar. no máximo, aviso: não pule de prédios altos, durante a queda há tempo demais para se arrepender. quer salvar-se de si mesma. como uma faísca aprisionada num iceberg, em A caixa preta, de Amós Oz. ela tem um amor impossível... é isso! ninguém consegue disfarçar um amor impossível, suponho. em algum tempo e lugar, uma voz, um jeito de sorrir, segurar o cigarro, vestir ou caminhar, ou a loucura ou a solidão ou a insatisfação, nos fazem lembrar. poderia explicar que não existem amores impossíveis, existem pessoas impossíveis. e também existem pessoas possíveis e um céu de um azul muito brega e mais feliz e blá, blá, blá... e daí, quem se importa com a cor do céu numa hora dessas? maldito uísque! meus pensamentos começam a dançar. James Blunt cantando i would call you up every saturday night, and we`d both stay out till the morning light, and we sang, "here we go again" também não está ajudando muito. preciso parar com essa mania psicótica de pesquisar letras de música no Google. a ignorância é a felicidade na sua forma mais pura. começo a desconfiar de que estou bêbado e perdendo a consciência e a falta de consciência também é uma forma de alcançar a felicidade... ou o nirvana, que, no budismo, é a ausência total de sofrimento, a paz e plenitude a que se chega por uma evasão de si. ahn, gatos pardos! acho que dá na mesma! agora estou me dispersando, que legal! tento me recompor apoiando o que resta da minha lucidez e equilíbrio sobre o copo de uísque. eterno déjà vu. óquei, poderia confessar que se for pra falar de amor, a minha resposta é sempre a imensidão. não para ela, porque aí já é pós-graduação em não saber amar. ela espera alguém que a faça evadir-se completamente de si mesma. eu procuro alguém para enlouquecer de vez atravessando todos os meus limites internos! deve ser essa lua pervertida em Peixes que me assombra todas as madrugadas. e que música é essa que está tocando agora? ah, Fergie e big girls don't cry já é demais! volto a respirar, mas a conversa mudou completamente de rumo. alguém está falando em morar no Canadá. Canadá!? por que alguém mudaria seu endereço para o Canadá? por que alguém partiria numa manhã de sol em direção a Serra Leoa? por que ela não quer mais se apaixonar? pouco me importa! meus pensamentos começam a abandonar o bar e, juro, se alguém mais se aproximar dessa Jukebox também vou embora.

6 comentários:

Ane disse...

ok... vc sabe o que penso de posts compridos, e também sobre a importância de procurar ajuda psiquiátrica.

cara, tu deve ser o melhor cliente dos laboratórios de analgésicos, sabia? falando nisso, prefira o paracetamol em lugar da dipirona.

eu ando sóbria demais hoje, fiz uma retrospectiva dos passos de D. João VI e descobri onde gritava a Maria Louca, tudo num calor de 37 graus com um maluco de paletó e gravata gritando no meio de uma centena de pessoas... canadá numa ora dessas me parece ótima idéia! apaixonar-se também, mas pessoas certas nunca existiram, ou vc conhece alguma?

beijos e juizos (em poucas doses com gelo)

Sergio Fonseca disse...

hum... acho que você deve começar a se preocupar quando tiver passado de 2/3 da garrafa de whisky e começar a enxergar nat king cole cantando when I fall in love, It will be forever, Or I'll never fall in love...

Anônimo disse...

Ane e Sergio,
vocês dois se uniram pra me sacanear, né? fala a verdade! é muita informação para uma segunda-feira, preciso de um tempo para pensar sobre todas essas questões fundamentais... ahn, voltem daqui há dois bilhões de anos, de preferência numa sexta-feira, e terei todas as respostas! hoje estou de ressaca!
beijos e abraços

Silvia Chueire disse...

O texto e suas idas e vindas, por causa do uísque ou não, fizeram-me sorrir. : )

Beijos,
Silvia

Anônimo disse...

paracetamol é o cara! quer dizer, o remédio. rsss Quando eu crescer tambem quero ser uma Maria Louca. Nao deve ser ruim nao... Quem é a pirante que quer fugir pro Canada? Mó frio... Mas esse papo nao me é estranho. Eu tava junto? rsss

Anônimo disse...

Silvia,
ah, queria ter visto esse sorriso! :)
beijos

Ále,
misturei os papos, os pensamentos e o uísque e deu nisso! mas a inspiração foram as nossas conversas com o Ronaldo e a garçonete desesperada da Lima e Silva! eu me meto em cada roubada, te contar! ahahahah
beijos